O advogado Márcio Augusto Vasconcelos Coutinho ressalta que a política brasileira tem passado por importantes transformações nas últimas décadas, especialmente na representatividade. A busca por um sistema mais inclusivo e democrático resultou na criação de cotas eleitorais para mulheres, jovens e minorias étnico-raciais. Essas medidas surgiram como resposta à histórica exclusão desses grupos do cenário político nacional.
As cotas eleitorais têm aumentado a presença feminina na política?
Desde a aprovação da Lei 9.100/1995, que estabeleceu a reserva mínima de 30% das candidaturas para mulheres, houve avanços significativos na presença feminina nos espaços políticos. Mas esse número ainda é insuficiente diante da proporção real da população feminina no país. Muitas vezes, as cotas são utilizadas de forma simbólica, com mulheres sendo lançadas sem reais chances de eleição. Além disso, as barreiras culturais e estruturais ainda persistem.
Apesar disso, há exemplos positivos de mulheres que conquistaram cargos importantes graças às cotas. Sua presença tem contribuído para a pauta de gênero ser mais visível e discutida no Congresso e em outros espaços legislativos. Márcio Augusto Vasconcelos Coutinho frisa que o aumento da visibilidade feminina na política inspira outras mulheres a participarem ativamente do processo democrático. Assim, embora ainda existam limitações, as cotas de gênero representam um passo essencial rumo à igualdade de oportunidades.
As cotas raciais ajudam a combater a desigualdade histórica no acesso ao poder?
O Brasil é um dos países mais diversos do mundo, mas essa pluralidade nem sempre se reflete nos espaços de poder. As cotas raciais, embora não sejam amplamente institucionalizadas no sistema eleitoral como ocorre com as de gênero, vêm ganhando força através de iniciativas partidárias e movimentos sociais. Seu objetivo é corrigir distorções históricas que mantêm a população negra à margem da vida política. Apesar de não serem obrigatórias, alguns partidos já adotam critérios internos para incentivar sua inclusão.
De acordo com Márcio Augusto Vasconcelos Coutinho, essa medida enfrenta resistências, tanto por parte de setores que negam a existência do racismo quanto por aqueles que defendem que a cor da pele não deveria ser critério para representação. Contudo, dados mostram que parlamentares negros tendem a defender políticas públicas voltadas para a população afrodescendente com maior frequência. Portanto, mesmo sem serem amplamente aplicadas, as cotas raciais são fundamentais para a democratização.

Como as cotas de juventude impactam a renovação política?
A juventude também é alvo de estratégias de inclusão política no Brasil. A cota de juventude busca garantir que pessoas mais jovens tenham espaço para disputar eleições e participar da construção das políticas públicas. Afinal, os jovens são profundamente afetados por decisões tomadas hoje, como educação, emprego e meio ambiente. Mas a implementação dessa cota enfrenta obstáculos, principalmente porque muitos partidos priorizam candidatos com maior capital político ou econômico, independentemente da idade.
Mesmo assim, Márcio Augusto Vasconcelos Coutinho destaca que casos isolados demonstram que jovens podem alcançar cargos importantes e trazer novos olhares para a política. Seus mandatos costumam ter forte apelo inovador e digital, conectando-se melhor com a sociedade contemporânea. A presença de jovens no poder público também pode estimular a participação política da nova geração, combatendo o desencantamento com a democracia.
Cotas eleitorais como instrumentos de transformação social
Embora as cotas eleitorais não sejam uma solução definitiva para todos os problemas de representatividade, elas se mostram instrumentos indispensáveis para promover mudanças estruturais na política brasileira. Ao abrir espaço para mulheres, jovens e minorias, as cotas contribuem para que o Parlamento e outros órgãos públicos sejam mais próximos da realidade da população. No entanto, seu sucesso depende de fiscalização rigorosa, conscientização e reformulação de práticas partidárias.
Para que as cotas cumpram plenamente seu papel, Márcio Augusto Vasconcelos Coutinho evidencia que é necessário ir além da simples obrigatoriedade legal. É preciso investir em formação política, acesso ao financiamento eleitoral e combate a práticas discriminatórias. Somente com ações afirmativas constantes será possível construir uma democracia mais justa e representativa. O futuro da política brasileira depende da diversidade estar não apenas presente, mas atuante.
Autor: Ruschel Jung